ADEUS À LINGUAGEM / MORTE EM CARTAZ

por Carlos Henrique Schroeder

La Tosca Inc.
3 min readJul 17, 2021

A morte súbita do presidente Jair Messias Bolsonaro, na manhã desta terça-feira (25), chocou o mundo e espalhou uma onda de violência pelo país. Segundo testemunhas, o presidente Bolsonaro, o diretor-presidente interino da Ancine, o advogado Alex Braga Muniz, e o ministro da Cidadania, Osmar Gasparini Terra, estavam em uma reunião a portas fechadas no escritório central da Agência Nacional de Cinema, a ANCINE, na avenida Graça Aranha, 35, centro do Rio de Janeiro, quando Terra saiu gritando em busca de socorro. Ainda segundo testemunhas, o diretor-presidente interino da Ancine tentou reanimar o presidente com respiração

boca-a-boca e massagem cardiovascular. Os três assistiam a trechos de filmes brasileiros que estavam em cartaz ou em vias de estrear, como Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, Marighella, de Wagner Moura, e Greta, de Armando Praça. O atendimento médico demorou 22 minutos para chegar, e encontrou o presidente já em óbito. Segundo o médico socorrista Luiz Inácio Santos, 32 anos, que fez o atendimento inicial, a causa foi um infarto fulminante, que ocorre quando uma ou mais artérias que levam oxigênio ao coração (chamadas artérias coronárias) são obstruídas por um coágulo de sangue formado em cima de uma placa de gordura (ateroma) existente na parede interna da artéria. O governo federal ainda não se pronunciou oficialmente sobre a morte do presidente, mas especula-se que o general Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, fará um pronunciamento hoje à noite, em cadeia nacional.

O escritório central da Agência Nacional de Cinema foi o primeiro alvo, e tão logo confirmada a morte do presidente, foi saqueado e incendiado por uma multidão vestida de verde-amarelo. “Morte ao cinema”, gritavam os mais revoltados. Diversos cinemas no país foram apedrejados e incendiados, no decorrer do dia de hoje, e em alguns estados, como Santa Catarina e Paraná, com a conivência da polícia. Teatros e bibliotecas foram alvos de rajadas de metralhadora, e tiros de pistola, com alguns feridos. Entre os inúmeros confrontos que se seguiram no Rio de Janeiro, o Real Gabinete Português de Leitura ficou parcialmente destruído. O presidente em exercício, Hamilton Mourão, convocou a Força Nacional de Segurança e o Exército para conter os ataques. “É um momento difícil, o país per- deu seu líder, entendo a dor e a revolta, mas não há sentido nessa caça às bruxas, o nosso presidente faleceu de causas naturais, no exercício do mandato”, afirmou o general. ☠

CARLOS HENRIQUE SCHROEDER, 44, catarinense de Trombudo, é escritor, editor e curador da Feira do Livro de Jaraguá do Sul. É autor de As Certezas e as Palavras, As Fantasias Eletivas e História da Chuva (Record), entre outros livros.

A convite da La Tosca, 28 artistas brasileiros (escritores e cartunistas) escreveram obituários com as diferentes causas mortis de Jair Messias Bolsonaro. A publicação, em formato tabloide, foi organizada pelo escritor Ronaldo Bressane e teve apoio e impressão da Editora Reformatório. As mortes foram criadas por: Sérgio Sant’Anna, Mari Casalecchi, Noemi Jaffe, Edyr Augusto, Allan Sieber, Micheliny Verunschk, Nathalie Lourenço, Fred Melo Paiva, Santiago Nazarian, Marcelo Nocelli, Douglas Diegues, Rafael Campos Rocha, Leonardo Villa-Forte, Eduardo Kerges, Zé Maia, Nathasha Felix, Carlos Henrique Schroeder, Marcelo Ariel, Nelson de Oliveira, Christian Carvalho Cruz, Cristina Judar, Jacques Fux, Ian Uviedo, Simone Campos, Vicente Vilardaga , João Paulo Cuenca.

Para comprar: https://latosca.com.br/morre-bolsonaro

P.S.: Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

--

--